quarta-feira, 1 de abril de 2015
8.24h
8.24h da manha. Acordaste ao
meu lado num lugar que me pareceu estranho, olhei ao redor, as cortinas eram o
nosso quarto. Pousaste a cabeça no meu peito olhaste-me um momento.
- Sabes nunca deixei de
gostar dele. Foi o meu primeiro amor, não sei se era amor, nunca explicamos
isso um ao outro. Preciso de lhe falar isso. Não sei onde vamos dar. Se vamos
fazer amor os dois. Não é isso que quero. Mas se acontecer. Olhei-te e o teu
olhar desmentia as palavras.
- Ficas magoado se isso
acontecer? Porque me fazes essa pergunta se sabes a resposta, e eu não posso
dizer que fico.
Olhei de novo o quarto.
Regressei ontem cansado. Disposto a reiniciar tudo, a ter uma longa conversa de
olhos nos olhos. Não basta procurares o meu corpo em busca de prazer. Estava a precisar
de me situar. Sou de novo um marinheiro
velho e desgovernado no mar imenso. Olhei o relogio novamente, agora é outro,
com numeros vermelhos diferente do que me acompanhou mais de 3 decadas. 8.28h.
O quarto está diferente estamos diferentes os dois. Estás mais magra. O cabelo
finalmente liso e longo. Clareado. As minhas ausencias libertam-te. Podes ser
tu, e viver em função de ti. Quando estou presente fico com a sensação que
vives em função de mim. E o amor não é isso, o amor é livre, quem ama liberta
não aprisiona. Não sei fazer-te verdadeiramente feliz, atormenta-me esta duvida
faz anos.
Estranho escutar as tuas
palavras logo pela manhã. Uma revelação. Trinta anos depois. E se já tiver
acontecido, e se agora buscas o meu corpo para me recompensar da falta
cometida. Eu já fiz isso admito. E se perco a confiança em ti. E se as tuas
palavras dizem uma coisa e os olhos outra. Vou reaprender a não olhar nos olhos
de novo. O que os olhos não vêem o coração não sente diz o povo. O povo tem
sempre razão.
Comecei a desenhar algo na
minha cabeça, uma desconstrução, estamos a entrar numa zona perigosa. As
respostas aos meus sonhos de anos e anos estavam a aparecer. Nunca entendi
porque sonhava e sonho ainda, que um dia encontras alguem que te faça
verdadeiramente feliz e partes. Alguem que te leve a dançar na noite, a jantar
a dois, uma viagem de avião para um paraiso distante. Alguêm que te dê a mão
num passeio pela beira mar. Alguêm que te faça rir e tremerem as pernas,
afoguear o corpo e o coração. Entramos na curva perigosa, descendente de nós. A
nossa vida é um risco descendente, duas linhas paralelas de uma linha ferrea
que nunca se toca. Assalta-me a duvida.
Desistimos de nós.
Procuras o meu corpo para te
redimires das palavras. Buscas o meu sexo para acalmares o desejo. Excitou-te a
conversa, o proibido. Desconheço-te por vezes agora. Não falamos. Tenho de
reaprender saber beijar-te a pele e os seios, a acariciar-te como gostas. Faz
anos deixei de dizer que te amava, e hoje não sei. Não te sinto minha. Escorregas-me
por entre os dedos como a areia fina do deserto. Estou a ficar árido por
dentro. Esforço-me concentro-me em que tenhas um orgasmo, pelo menos um
orgasmo, depois descansas como leoa saciada.
Eu já fiz isso admito. E já
não tenho segredos para ti...
Levanto-me com a sensação do
dever cumprido. Os papeis inverteram-se agora. Durante muito tempo busquei o
teu corpo, por vezes lutas inglorias e quando vencia, era uma estranha sensação
de vitória amarga, cumprias a função de esposa/amante. Sempre pensei que não te
fazia feliz o suficiente. Nunca conversavamos. Ainda hoje temos dificuldade em
conversar por falta de assunto. Eu gostava tanto de conversar. Deixei para trás
tudo isso. Depois durante anos inventei monólogos escritos, conversas a dois escritas
a uma mão. Coisa de surdos que não levaram a lugar nenhum. Inventei histórias e amores. Procurei amores
para encherem o espaço vazio que sinto em mim. Transformei-me para pior do que
sou. Demasiado ausente em mim, a viver num mundo paralelo e a sobreviver no dia
a dia, a cumprir responsabilidades assumidas. Egoista. Insatisfeito! Dizias-me
por vezes. Tens razão, sou um enorme egoista insatisfeito. Já não tenho
remedio. Ou cura.
Nunca conversamos o
suficiente. O amor não se aprende, constroi-se, li um dia. Um livro do prof.
Quintino, uma especie de carta fechada, deve ser isso mesmo. Sobretudo
constroi-se partilhando as palavras, e as nossas são tão escassas por vezes.
Tem dias que não nos falamos, cumprimos os papeis assumidos maquinalmente.
Agora estamos aqui. O quarto
demasiado diferente. Parados deitados tu saciada.
Estamos parados em cima da
linha fragil e perigosa da desconstrução do amor. Se um comboio passa e nos
acerta esfrangalha-nos, e demoramos com toda a certeza a recompor, a buscar os pedaços,
a reunir os ossos, a suturar a pele, a sarar as feridas, a disfarçar as
cicatrizes mais superficiais, porque as profundas ficam como fibroses internas,
que de tempos a tempos nos doem nas mudanças do clima.
Este mundo não é para velhos
e eu envelheço por dentro. Acho que as palavras se encaixam como uma luva. As
palavras do ultimo livro que li. Vou tentar retomar a leitura recuperar o vazio
em mim.
(1)...”Esqueceste
pouco a pouco o meu amor. Nunca me falaste de ternura. Vi, muitas vezes, o riso
na tua boca, mas jamais disseste o teu desejo. E quando o teu corpo nos levava
no sonho, como se nos perdessemos em cada segundo, deixavas-me sozinha na
escuridão...”
Não posso prender-te tens
todo o direito a voar. A aprender a voar a abrir as asas e voar. Acho que te
roubei na juventude e precisavas viver, de conhecer mundo de aventura e
emoções. Roubei-te a juventude e agora estas a reencontrar de novo essa etapa a
descobrir-te. Perdoas o meu egoismo? A minha presença encobriu sempre a tua
juventude. A prisionei-te. Logo eu que apregoo ao vento nas minhas viagens no
mar imenso, que o amor se quer livre e solto. Que quando se ama se deixa partir
porque essa é a maior prova de amor. Que o amor é liberdade. Perdoa ter sido o
teu carcereiro tantos anos seguidos.
João Marinheiro, inéditos 2015
domingo, 6 de abril de 2014
segunda-feira, 3 de março de 2014
Viagem...
Eu aqui
desenhando-te de memória
Os contornos
do rosto
Todos os
fios do teu cabelo, longos
A forma das
tuas mãos quando me agarras...
Eu aqui
sentindo-te enquanto um oceano liquido me separa e nos afasta.
Ali ao longe,
longe do mundo dois jovens abraçam-se longamente
o tempo parado...
Lentamente separam-se
e enxugam as lagrimas que inundaram os olhos
São olhos
inocentes ainda
O mundo
cruel ainda não se revelou.
Fotografia de Barcoantigo 2014
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
A Ronca
Recital no Diana Bar, Povoa de Varzim em 2012, por Ivo Flores, um companheiro de escola que revisito.
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Existem pessoas que nos entram por dentro do corpo de uma
forma inexplicável
Existem pessoas
Que nos entram por dentro do corpo
De uma forma
Inexplicável
Inexplicável
Inexplicável…
João marinheiro, Ineditos 2013
Fotografia de Quark, www.olhares.com
sábado, 6 de abril de 2013
água...
Ser gotas de água no teu corpo
Tão bom esse sentir…
João marinheiro Ineditos 2013
Fotografia de João Redondo, www.olhares.com
sexta-feira, 29 de março de 2013
contra luz
Imaginar-te à janela em contra luz
Desnuda.
Chego de mansinho pé ante pé
Abraço-te. Um abraço redondo sôfrego
E beijo-te a nuca, as orelhas, o pescoço
Enquanto as minhas mãos te acariciam os seios duros
E a paixão cresce
O desejo aumenta
O sangue ferve bombeado a quatro mil e tal batimentos por hora
E tu prisioneira
Lentamente, lentamente
Tacteias-me o corpo, as tuas mãos ágeis
Enquanto da tua garganta saem gemidos
E as minhas mãos buscam o teu sexo quente.
Estremeces no meu abraço redondo
E a paixão cresce
O desejo aumenta
O sangue dilacera as artérias
E o ar nos falta…
João marinheiro Ineditos 2013
Fotografia de António Mizael www.olhares.com
domingo, 24 de março de 2013
magnólias jasmim...
Magnólias e Jasmim é esse o aroma da tua pele
Onde poiso a medo os lábios sequiosos
E as mãos rudes, cansadas do mar percorrem trilhos
Enquanto a noite nos envolve em mistérios de caricias e
desejos
E tua boca sôfrega se entrega a um beijo como se fora único
e último
Qual raposa, a tua língua ora toca ora foge dos meus
lábios e eu
Olhos fechados. Guardo-te na memória em compartimento
secreto.
O tremor do teu corpo, a curva dos seios que beijo
Magnólias e jasmim a que sabem.
é esse o aroma da
tua pele
Iluminada em breves momentos pelos raios que cortam a
noite
E os trovões nos assustam com estrondo
E te encosto a mim a proteger-te, um abraço apertado
Um arfar quente do corpo a pedir, tu em murmúrios lentos
Aos meus ouvidos chegas sem te anunciares, paixão, fogo
Os teus olhos são labaredas negras intensas na noite.
Perco-me em ti. Perdes-te em mim. Perdemos o rumo
O azimute na carta, a posição do sol na hora certa.
Somos um verdadeiro naufrágio de desejos contidos
Um emaranhado de cabos e redes como fios os teus cabelos
nas minhas mãos
E eu pescador de sonhos, cansado, velho.
Adormeço no teu regaço enquanto as tuas mãos me afagam,
Me descobrem devagarinho e embalado descanso
Enquanto a tua língua brinca ao esconde esconde com a
minha
Beijo-te mais uma vez, como se fora a primeira, um beijo
roubado
A saborear-te delicadamente como um néctar, qual beija-flor
Em pequenos tragos de cortar a respiração. Suspenso no
momento.
E tu!
Me abraças trémula
de amor a tua pele a transpirar perfume
Magnólias. Jasmim...
João marinheiro Ineditos 2013
Fotografia "gotas de desejo" João Redondo, www.olhares.com
domingo, 17 de março de 2013
na beirada do mar...

Chegaste pela beirada do mar
Enquanto a chuva miudinha caia
Chegaste em passos rápidos, graciosa
Contemplava-te por detrás do vidro que me protegia da água e nos separava.
Esperava-te
Enquanto a noite entrelaçada na chuva cobria de negro o tempo
E a tua silhueta se recortava em contra luz na beirada do mar
Então sorri porque finalmente chegaste
Abriste a porta.
Os teus olhos negros como diamantes…
O desejo em mim, em ti.
A noite entrelaçada na chuva como dois amantes
Tu e eu, parados na beirada do mar
Fica comigo esta noite…
João marinheiro Ineditos 2013
Foto. capa do Livro, Fica comigo esta Noite de Inês Pedrosa
quinta-feira, 14 de março de 2013
sábado, 9 de março de 2013
da tua pele...
pois...hoje, tu és todo o meu universo, redondo, quadrado, elíptico,
oblíquo, de todas as formas imaginadas.
Os olhos abertos, semiabertos ou semicerrados, e se os fecho,
não sei se o teu cheiro é rosas ou mar, e as minhas mãos uma espécie de rede
onde fico suspenso, um emaranhado de cabelos nos dedos, ou o teu riso ou o
brilho dos teus olhos se transformam em desejo saudade, querer – te.
Andar contigo de mão dada na praia os pés nus na areia fria,
um estremecimento dos corpos
O teu cheiro entranhado na minha pela à flor da pele…
João marinheiro S. Paio de Antas 09 Março 2013
domingo, 30 de dezembro de 2012
do pecado...
Resta-nos ainda a memória
agora que este ano cansado se despede em
tempo cronometrado ao milionésimo de segundo preciso...
Separa-nos uma linha invisível
Um traço leve a delimitar o contorno dos lábios
Vermelhos rubro cereja
Os teus
Onde brota o néctar de
deuses desejado.
Separa-nos uma linha invisível,
Silhueta do teu corpo em contra luz no entardecer
Que afago de memória
O sabor dos bicos hirtos e o redondo dos seios arrepiados
A memória na ponta dos dedos
A língua saboreando-te o sabor de quase mel a que sabes
Sentir esse mel na pele, a língua volteando os sabores a
prolongar o tempo...hum
Redimido de pudores...
Sem dúvida um marinheiro conquistador serei hoje
Em que te confesso as ousadias da imaginação presa.
Separa-nos uma linha leve e invisível
A transparência do vidro frio
Onde as minhas mãos escorregam impotentes sem poderem
agarrar-te
E eu caio a todo o comprimento desta cortina
Desamparado.
João Marinheiro Ineditos, Dezembro de 2012
Fotografia de Seven- www.olhares.com
domingo, 23 de setembro de 2012
segunda-feira, 9 de julho de 2012
segunda-feira, 2 de julho de 2012
voar...
São as asas de um avião que eu quero
Para me levar até ti
Aos teus braços abertos para um abraço apertado
É o vento que me eleva no ar, asas de Icaro volteando
São as asas de um avião que eu quero
Para me levar até ti…
sábado, 29 de outubro de 2011
domingo, 5 de dezembro de 2010
terça-feira, 13 de abril de 2010
teus braços...
O tempo confuso
A ternura adiada
As mãos fechadas
Os olhos fechados
As portas fechadas
Uma estrada
Um deserto
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