segunda-feira, 11 de agosto de 2008

asas...




...Tenho uma saudade tua que me desespera e ando aqui a afastar-me das pessoas à espera que a noite chegue e o cansaço me vença por exaustão dos sentidos, e depois feche os olhos definitivamente e adormeça fulminado por um valiun 5 que me fecha as portas dos sonhos, as portas da memoria, as portas do desejo teu. Já não sei que faça, se te mate em mim, se te abra a porta do coração e deite a chave ao mar, para que a porta fique sempre aberta para ti, para que entres quando quiseres e possas ir embora sempre quando quiseres, pela manhã, antes de eu acordar a vencer a força da droga que me adormece o sentir...

joão marinheiro 2008 excertos...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Todo o tempo do mundo...




...Quatro e trinta e cinco da madrugada.
O relógio no pequeno rádio pisca em vermelho vivo a dizer-me que é tarde. Não me importo. O vento forte e frio e húmido entra pelas aberturas na porta e faz estremecer as paredes. As portas do sótão nos esconsos fazem um ruído que assusta de batidos incertos conforme a força do vento. Eu estou aqui. A janela sem as cortinas corridas aberta para a noite fria e ventosa por onde espreito a chegada da maré viva à praia deserta de nós. Imagino-te outra vez. Desejo-te outra vez e afogo-te em mais gole deste vinho ácido que me queima por dentro e me faz estar assim, velho, inútil, abandonado, bêbado nesta hora aqui a olhar o mundo deste pedaço de quarto onde habito agora. As noites desde que me mudei para aqui são dolorosas, em vigília sem sono, sofro de alucinações que me fazem ver cabos e velas rasgadas nas paredes, e ventos furiosos e temporais e gritos e naufrágios e companheiros que desaparecem borda fora numa volta de mar e tenho medo. Medo sim de estar aqui preso inválido sem forças, vencido por uma saudade silenciosa que me rouba a vontade e não me permite ir ate à praia de novo em busca dos restos de ti. O teu naufrágio doloroso em mim. A carcaça só navio, imponente que foste por dentro de mim. O mar onde naveguei temerário a desafiar as tempestades a desafiar os medos a desafiar os dias cíclicos e o sentir. Sinto-te. Sinto-te como quando tinha trinta anos e estava convencido que numa mão virava o mundo todo porque te amava. Agora já não. Tenho medo. Estou velho e só aqui, e a minha história de vida é desconhecida para aqueles que não sabem quem sou e não suspeitam do amor que guardo puro e níveo e inocente em mim. Espécie de segredo amaldiçoado que me persegue...

João marinheiro Março de 2008, Excerto

sábado, 2 de agosto de 2008

Sem nome…




Eu a esperar-te. O tempo a passar lento. Demoramos. As mesas vazias. O café vazio. Eu a esperar-te. Eu a imaginar-te. Tu a chegares. Tu a chegares. Tu a caminhares. Tu a sorrires. Tu a murmurares. Desculpa – estou atrasada! O tempo a começar a andar. Tu a ficares próxima. Eu a admirar-te. Tu a sorrires. Espécie de sol na minha vida. Eu a olhar-te. O tempo a andar mais depressa. Eu a querer-te. Tu nem por isso. O sol nos teus olhos. Eu a querer apanhar o sol. Tu quase a partires. O tempo a correr. Tu a saíres pela porta. Eu parado. O tempo que voa agora. Foste embora de novo. Eu a tropeçar na saudade. O sol a esconder-se. Eu a descer a rua ao contrário. Tu para norte. Eu para sul. Eu a querer-te. Tu nem por isso. Eu num café numa cidade qualquer. Uma mesa qualquer. Uma chávena vazia. A mesa vazia. Eu vazio. Um vazio imenso. Um silêncio imenso. Eu vazio de ti. Eu a esperar-te de novo. O tempo a passar lento outra vez. Eu a perder a vez. O sol a ir também. A noite em mim. O silêncio que chega. Eu a esperar-te ainda. A não dizer que te amo. O amor adiado. Eu a querer-te. Tu nem por isso.

João marinheiro 02/08/08