terça-feira, 28 de agosto de 2007

Beijo...




...Outro dia e eu aqui, os olhos fechados a tentarem disfarçar o tempo das horas.
Deito-me. abandono-me nesta cama que já foi tua. Onde fizemos amor a primeira vez. Amortalho o pensamento, esqueço-me de mim próprio. Quando me deito fico numa espécie de êxtase, narcotizado. Uma espécie de torpor bamboleante, como se estivesse a bordo a dormir no meu pequeno beliche e o som da água de encontro ao casco a adormecer-me como uma canção de embalar...Quero adormecer e afastar-me de ti. Vou na boleia do veleiro que arreou as velas há pouco, e rumo a um sul sempre demasiado a sul de ti, e de mim...

...Amanhã, o dia será outra vez com vinte e quatro horas, e no alvor, os barcos lançam as redes em busca da sardinha cor de prata. E o sol vai nascer a leste de mim, por detrás das montanhas, e das hélices enormes na serra que aproveitam o vento a gerarem a energia limpa. O campo de milho vai estar lá, ali junto ao sopé da serra, separado pela estrada negra, e os carros vão passar para um lado e outro, rápidos. E por vezes, as ambulâncias com toda a aflição dos tempos, correm contra o tempo escasso. Os minutos que marcam a salvação ou a morte...

...Eu fico aqui, junto ao mar, como faço sempre. A envelhecer. Abandonado como uma carcassa de um velho barco. Na praia. A envelhecer de saudade. A envelhecer de amor. Nem eu sabia que o amor nos torna velhos e abandonados como os barcos que amo. Espécie de alma que os barcos tem....

" De subito desaba a tempestade" excerto,
João 2007

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