terça-feira, 21 de agosto de 2007

Falamos depois...



...Até parece que não sou deste tempo. Sou. Mas sou muito ausente. Essa é a verdade que descubro aos poucos em mim. Restam-me as palavras a ti. Não te digo que te amo. Estaria a mentir. Porque para amar temos que ser dois, esta é uma constatação que observo. Temos que ser dois no mínimo e eu não existo. E tu és uma artista na tela da tal sala do cinema com as paredes negras e o som surround. E tenho no momento uma janela de onde observo a rua torta e deserta. O céu meio cinza que hoje choveu. Quatro rosas tardias numa cor rosada e lavada pela chuva. Um diospireiro quase sem folhas e sem frutos. E este é o mundo que observo no momento, o mundo real. E na rua, às vezes, mas raramente, passa um carro com pessoas dentro, que são outros mundos e outras histórias que não quero nem posso nem devo conhecer, porque são de outro tempo, o tempo delas. E o meu tempo é teu. Hoje é por inteiro teu. Hoje só tu existes em mim. És tu que bates ritmada no meu coração, o músculo grande e vermelho como as rosas de paixão que te falei és tu. E andas por dentro de mim, descobres-me todo na plenitude. Vais a cada poro do corpo, a cada vaso capilar, à ponta dos dedos, até à ponta dos meus cabelos já grisalhos. Descobres-me totalmente...

"Na minha cabeça passam muitas histórias ao mesmo tempo" excerto

3 comentários:

Anônimo disse...

Uma rua torta e deserta
Lá fora quase um finito para os olhos que vê através de uma janela
mas ainda restam as palavras!

Poeta... guarda a minha admiraçâo, pois tem a poesia na alma!

Um abraço

Anônimo disse...

ai João, João, João, João ...

Bruxinha disse...

Adoro esta música, tem a minha cara...
"Deixa-me dormir, dá-me umas horas que depois eu ligo... falamos depois..."
Só que depois não falamos!