terça-feira, 28 de agosto de 2007

Beijo...




...Outro dia e eu aqui, os olhos fechados a tentarem disfarçar o tempo das horas.
Deito-me. abandono-me nesta cama que já foi tua. Onde fizemos amor a primeira vez. Amortalho o pensamento, esqueço-me de mim próprio. Quando me deito fico numa espécie de êxtase, narcotizado. Uma espécie de torpor bamboleante, como se estivesse a bordo a dormir no meu pequeno beliche e o som da água de encontro ao casco a adormecer-me como uma canção de embalar...Quero adormecer e afastar-me de ti. Vou na boleia do veleiro que arreou as velas há pouco, e rumo a um sul sempre demasiado a sul de ti, e de mim...

...Amanhã, o dia será outra vez com vinte e quatro horas, e no alvor, os barcos lançam as redes em busca da sardinha cor de prata. E o sol vai nascer a leste de mim, por detrás das montanhas, e das hélices enormes na serra que aproveitam o vento a gerarem a energia limpa. O campo de milho vai estar lá, ali junto ao sopé da serra, separado pela estrada negra, e os carros vão passar para um lado e outro, rápidos. E por vezes, as ambulâncias com toda a aflição dos tempos, correm contra o tempo escasso. Os minutos que marcam a salvação ou a morte...

...Eu fico aqui, junto ao mar, como faço sempre. A envelhecer. Abandonado como uma carcassa de um velho barco. Na praia. A envelhecer de saudade. A envelhecer de amor. Nem eu sabia que o amor nos torna velhos e abandonados como os barcos que amo. Espécie de alma que os barcos tem....

" De subito desaba a tempestade" excerto,
João 2007

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Falamos depois...



...Até parece que não sou deste tempo. Sou. Mas sou muito ausente. Essa é a verdade que descubro aos poucos em mim. Restam-me as palavras a ti. Não te digo que te amo. Estaria a mentir. Porque para amar temos que ser dois, esta é uma constatação que observo. Temos que ser dois no mínimo e eu não existo. E tu és uma artista na tela da tal sala do cinema com as paredes negras e o som surround. E tenho no momento uma janela de onde observo a rua torta e deserta. O céu meio cinza que hoje choveu. Quatro rosas tardias numa cor rosada e lavada pela chuva. Um diospireiro quase sem folhas e sem frutos. E este é o mundo que observo no momento, o mundo real. E na rua, às vezes, mas raramente, passa um carro com pessoas dentro, que são outros mundos e outras histórias que não quero nem posso nem devo conhecer, porque são de outro tempo, o tempo delas. E o meu tempo é teu. Hoje é por inteiro teu. Hoje só tu existes em mim. És tu que bates ritmada no meu coração, o músculo grande e vermelho como as rosas de paixão que te falei és tu. E andas por dentro de mim, descobres-me todo na plenitude. Vais a cada poro do corpo, a cada vaso capilar, à ponta dos dedos, até à ponta dos meus cabelos já grisalhos. Descobres-me totalmente...

"Na minha cabeça passam muitas histórias ao mesmo tempo" excerto

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Cá estamos nós outra vez...


...Que te dizer se também eu sinto a ausência que escreves...Tens razão, resta-nos a memoria cada vez mais cansada. Um tremendo cansaço para guardar...
Podia dizer-te que escrevo para ti de memória. Em tua memória.

Não é verdade!

Escrevo uma invenção da memória a ver se coincide com a tua memória minha e te lembras de mim um dia e então regresses à minha memória de hoje em que me sinto angustiado...

João 2007

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Só aqui nas palavras ...



...Só aqui sinto os dias claros que passei contigo e todos os outros cinzentos quando foste embora.
Só aqui o poeta te escreve da saudade porque queria o tempo todo e um dia pode ser a eternidade...

"Só aqui nas palavras magoadas pelo silêncio eu te consigo achar", excerto.

João 2007

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Encosta-te a mim...




...Retomo as palavras. As minhas palavras. A minha escrita. Não importa que nunca venhas a ler o que escrevo dedicado a ti...

...Nada é importante agora porque ficam e são só palavras, e as palavras perdem-se no tempo, são frias porque nunca conseguem transmitir o que se sente por dentro. Mesmo que as palavras sejam as mais belas não passam de palavras estáticas e mortas. Só o sentir é vivo porque bate no peito, circula nas veias, nos faz sentir calor e frio ao mesmo tempo.

Todas estas palavras para te dizer que estou cansado e me sinto impotente, vencido. Tu ganhas, e não sei se alguma vez isto foi uma batalha. Mas tu ganhas. Preciso de um tempo, um pouco de tempo para descansar. O coração ressente-se de novo...

...Todos os marinheiros são loucos e temerários e sonham...

Adeus
Hoje parto para a minha ilha no outro lado do mundo...


"Foste um capítulo e eu queria que fosses um livro na minha vida" Excerto

João 2006